Peça central da denúncia apresentada ontem à Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro na reforma do tríplex no Guarujá, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alçado à condição de “comandante máximo” do esquema do Petrolão. A acusação partiu do procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF) paulista, para quem o petista teria recebido R$ 3,7 milhões em propinas e estaria à frente de um esquema que usou dinheiro público para manter o PT no poder.
As acusações sacudiram o mundo político e provocaram reação imediata do partido e do ex-presidente. Para a defesa de Lula, as declarações do representante do MPF fazem parte de um “truque de ilusionismo”. Aliados viram na denúncia uma tentativa de desestabilizar uma eventual candidatura do petista à Presidência da República em 2018.

O ex-presidente foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crimes cujas penas, somadas, podem chegar a 32 anos e 6 meses de prisão. A denúncia do MPF trata de crimes de corrupção ativa e passiva cometidos em contratos firmados entre a Petrobras e a empreiteira OAS entre 2006 e 2012, referentes às refinarias Repar e Renest. 

O Ministério Público fala também em lavagem de dinheiro na aquisição, reforma e decoração de um apartamento tríplex em Guarujá, no litoral paulista, e em contratos de armazenamento de bens de Lula, que teriam sido bancados pela empreiteira. 

Também foram denunciados pelo MPF a ex-primeira dama Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, além de Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Paulo Roberto Valente Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira, todos ligados à empreiteira.

Durante coletiva, Dallagnol classificou o governo Lula de “propinocracia”: “é o governo regido pelas propinas”, afirmou. Seriam três os objetivos do esquema: manter a governabilidade, perpetuar o PT no poder e promover o enriquecimento ilícito de agentes públicos.

O esquema de propinas, segundo o procurador, buscou “dar ao próprio PT uma perpetuação criminosa no poder por meio da formação de colchão de recursos usados em campanhas eleitorais”.

“Essas provas demonstram que Lula era o grande general que comandou a realização e a continuidade da prática dos crimes com poderes para determinar o funcionamento e, se quisesse, para determinar sua interrupção”, disse Dallagnol.

“FARSA” –Emumpost no Facebook, Lula negou ser dono do triplex do Guarujá e afirmou que sequer dormiu

Na denúncia contra Lula, o Ministério Público Federal pede o confisco de R$ 87 milhões. A acusação aponta “14 conjuntos de evidências que se juntam e apontam para Lula como peça central da Lava Jato”. Segundo a denúncia, o ex-presidente poderia ter determinado a interrupção do esquema criminoso.

“O funcionamento do mensalão e da “Lava Jato” dependia não só do seu poder como governante, mas do seu comando como líder partidário”, afirmou o procurador.

Defesa aponta cenário de perseguição e tentativa de barrar candidatura do petista

Cristiano Zanin Martins, advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Marisa Letícia, disse ontem, em entrevista coletiva, que a denúncia oferecida ontem contra seus clientes tem o objetivo de evitar que Lula se candidate à Presidência nas eleições de 2018. “Essa é uma narrativa da força tarefa mentirosa, incompatível com a realidade dos fatos e incompatível com as provas existentes”, disse.

“Eles ignoraram os documentos (que ele disse ter apresentado aos procuradores para provar que a propriedade do tríplex no Guarujá é da OAS). Eles usaram hipóteses e ilações apenas com o objetivo de acusar o ex-presidente Lula e Dona Marisa Letícia. É uma acusação que não se sustenta do ponto de vista jurídico e é uma acusação política para o fim, estabelecido desde o início dessa operação, que é impor, a todo custo, uma condenação indevida e injusta a Lula e Dona Marisa”, disse Martins.

Para o advogado, a ideia é evitar que Lula se candidate às eleições de 2018. “Entendo que há um cenário de perseguição e, mais do que isso, há uma real intenção de tirar o ex-presidente Lula do cenário político e eleitoral para 2018”, disse.

“Lamento profundamente que hoje a força tarefa da ‘Lava Jato’ tenha se utilizado do tempo e dos recursos dos cidadãos brasileiros para fazer uma narrativa que é falsa, de cunho político e que é estranha à própria denúncia que foi apresentada apenas para atingir a reputação de Lula e de seus familiares”, disse o advogado, que criticou também o fato dos procuradores terem convocado uma coletiva para apresentar a denúncia. 

Para ele, os procuradores se utilizaram de “seu tempo de agentes públicos e de dinheiro público para fazer uma entrevista coletiva para enxovalhar a honra de um cidadão”.

Comparação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu com indignação a informação de que ele e a mulher, Marisa Letícia, foram denunciados pelo Ministério Público. Ele foi informado por um assessor após o almoço, enquanto tomava café. 

Segundo presentes à mesa, Lula ficou particularmente incomodado com a inclusão de dona Marisa. Ele leu a notícia no celular de um dos assessores. “Ficamos todos indignados”, disse o ex-ministro Carlos Gabas, que testemunhou a reação. 

Também presente no café, Fernando Morais disse que não há surpresa, já que Lula é, na sua opinião, o alvo de um golpe. “Seria o cúmulo da ingenuidade supor que fariam o carnaval que fizeram para depois deixar o Lula ganhar a eleição em 2018”, disse.